sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Resenha: Impressões sobre o filme “Polícia federal”. A lei É para todos?



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No feriado de Independência do Brasil fui assistir nos cinemas à sensação cinematográfica nacional “Polícia federal: a lei é para todos”, que traz uma abordagem, no mínimo, peculiar sobre a Operação Lava Jato, a maior investida brasileira contra a corrupção. O filme demonstrou, ao longo de mais de 1h30, pontos que devem ser levados em consideração; porém, em alguns momentos, o longa-metragem trouxe alguns fatos distorcidos sobre a realidade tupiniquim. Vamos a eles.

A maior operação contra a corrupção no país iniciou-se de um ponto de partida interessante: uma apreensão de tráfico de drogas (cocaína) em um caminhão carregado de palmito. Após essa ação, por meio de investigações, policiais e delegados da polícia federal descobriram que esse fato estava relacionado ao doleiro Alberto Youssef, homem já condenado por Moro no caso Banestado (o mesmo que julgou Gustavo Franco – o nome forte da economia de Fernando Henrique Cardoso, nos anos 1990, de ter manipulado o cenário econômico da época, apenas para ver forte sua moeda, o real, e que também virou longa metragem) e principal suspeito e investigado há tempos pelos policiais federais, que estavam na “cola” ou na sola do sapato dele, mas que sempre escapava, como um bicho oleoso.

Se pensarmos só um pouco – e eu digo apenas um pouquinho –, chegaremos à seguinte conclusão (isso fazendo relação com o atual resultado da megaoperação): políticos, empresários, banqueiros e seus bancos, entre outros, além de comandar nosso país de forma sórdida, estão metidos em tráfico de drogas, o que nos leva a inferir outro problema, o fato de número dois: seriam mesmo os moradores de morros e comunidades periféricas, nas grandes cidades, os verdadeiros “peixes grandes” do narcotráfico? Deixo a pergunta como reflexão, caro leitor. Depois você pode me responder nos comentários.

No entanto, como nem tudo são flores, vamos ao ponto que achei distorcido da realidade, mas que encontra uma justificativa, que irei elucidar logo em seguida. O juiz Sérgio Moro, responsável pelo julgamento de todos os inquéritos apresentados pela polícia federal, não ocupa lugar de destaque. Ele é mais um coadjuvante do que protagonista no filme, sem contar que seu semblante está sempre sério, demonstrando estar num eterno mal-estar por ter de testemunhar tudo isso acontecido no país, como se ele representasse todo o sentimento da população, ou seja, enojada com tanta roubalheira acontecendo debaixo do nariz. Além disso, o juiz de Curitiba é apresentado como um exemplo de cidadão que preza pelos bons costumes da família, ao ser mostrado com sua esposa e seu filho; se não bastasse toda essa imagem, o diretor exagera ao evidenciar, de forma implícita, que Moro segue um código de conduta, ao não contrariar a ordem de sua esposa sobre a vontade de seu filho em ir para uma festa; o juiz diz que é de Primeira instância, enquanto sua esposa seria a Corte suprema; dessa forma, jamais iria contrariar uma ordem dada “de cima”. Nesse momento, gargalhadas são proferidas pela plateia; porém, os mais ligados aos fatos deixam escapar, literalmente, uma risadinha de canto da boca, só para não dar a impressão de que a intenção do diretor passou batida.

Como eu disse anteriormente, esse desfoque dado ao juiz que mais apareceu na mídia tem uma explicação, e simples, por incrível que pareça: o enquadramento do longa-metragem é a polícia federal e seu trabalho, como deixa claro o título da obra. Portanto, o que passam a ser importantes são as investigações a respeito de pessoas ligadas aos crimes que levam o Brasil para o patamar de país mais corrupto do mundo. E é isso mesmo o que o telespectador vê na película: forma de trabalho, montagem de equipes, meios de se chegar aos suspeitos, operações etc., tudo com o intuito de exaltar um suposto trabalho muito bem executado de uma instituição que andou, por muito tempo, sem autonomia e descrente do povo brasileiro e que vem conquistando a simpatia dos da sociedade depois de indiciar e até mesmo prender magnatas criminosos que roubaram milhões e, em alguns casos, bilhões de reais dos cofres públicos.

Por fim, o longa dá indícios de que, talvez, ainda virá uma sequência, uma vez que os fatos relatados na narrativa vão de 2013 a meados de 2016, quando o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi encaminhado, por condução coercitiva, à sala presidencial do Aeroporto de Congonhas. No episódio, Lula afirmou ter sido muito bem tratado pelos agentes da polícia, mais uma prova de que o filme traz uma visão enaltecedora dos homens e das mulheres que compõem toda a equipe da instituição. Como ser humano, não tenho dúvidas de que isso realmente tenha acontecido, a película só não precisava exagerar essa perspectiva protecionista a respeito de toda a corporação.

Enfim, a obra cinematográfica está em cartaz na maioria dos cinemas e é uma boa opção para aqueles que não sabem nada sobre a Lava Jato e também para quem gosta de filmes nacionais. Claro, como sempre digo a todos: só não vamos acreditar em tudo que ouvimos, lemos, vimos etc. Além disso, metaforicamente falando, para o mês de setembro, serve como um protesto contra um dos crimes que mais atrasam o desenvolvimento do país, demonstrando que o povo quer “independência” de uma larga corja de sanguessugas, que chupam o sangue e a vitalidade de toda a sociedade, ou ainda um bando de urubus devorando o fígado do povo brasileiro, até as forças se extinguirem. Nesse sentido, termino o texto fazendo um trocadilho ruim com o título: “Polícia federal: a lei É para todos?”.


Adams Alpes

sábado, 28 de maio de 2016

JOGO DO DINHEIRO


A corrupção tem de acabar. Político bom é político preso. Roubou, tem de pagar. Vamos prender todos eles. Vamos tirar o PT, o PSDB, quem for corrupto. Fora corrupção. Fora PT... Em tempos de corrupção no meio de tanta vida atribulada, corrida, na qual matamos um leão por turno, são falas iguais a essas que nos espreitam como a um predador vigia sua presa.
E, com essa vida materialista nos pressionando o tempo todo, não sobra um segundo que seja para pensarmos em nós, em nossos atos, em nosso comportamento como seres humanos. Não sobra um suspiro que seja para pensarmos no que estamos fazendo para mudar o mundo, para deixá-lo com um legado aproveitável por nossos netos e sobrinhos.
No entanto, o filme “Jogo do dinheiro” (curiosamente chamado no original de “Money monster”), estrelado por George Clooney e Julia Roberts, com direção assinada por Judie Foster (sim, a atriz de “O silêncio dos inocentes” e “Nell”) nos coloca diante de um tema extremamente discutido atualmente: a corrupção, principalmente aquela que envolve o dinheiro em altas quantidades. Contudo, vou além e digo que a película trata sobre o ser humano e de como a corrupção e nossos atos egoístas causam transtornos irreparáveis na vida de um indivíduo, levando-o até a morte. E, claro, sem nos esquecer, por meio do título, de que o dinheiro é o grande produtor de monstros sociais.
A história gira em torno dos personagens Kyle Budwell (Jack O’Connell) e Lee Gates (George Clooney), este o âncora de um programa televisivo com dicas de investimentos na bolsa de valores. Kyle, após receber uma herança pela morte de sua mãe e acreditando nos apontamentos do talkshow de Gates, aposta todo o montante recebido numa empresa (IBIS Corporation) que, após um erro de algoritmo, perde U$$ 800 milhões de dólares. Querendo se vingar de Lee pelo fracasso, o entregador entra no estúdio armado e promete acabar com a vida de todo mundo se não for lhe dada uma explicação sobre o sumiço do dinheiro. Contudo, o que as pessoas não sabiam é que esse sumiço não foi um erro de algoritmo, e sim algo bem maior do que se imagina.
Ao descobrir que o presidente da IBIS, Walt Camby (Dominic West), mentiu para sua equipe, o personagem de Clooney começa a se interessar pela história de Kyle e chega até a ajudá-lo, mas em vão. No entanto, conforme as informações vão brotando e sendo descobertas, Gates e sua diretora do programa, Patty Fenn (interpretada por Julia Roberts) levam ao público o poderoso esquema de corrupção armado por Camby, que desperdiçou todos os investimentos dos acionistas, por conta de interesses próprios.
O longa faz em seus 98 minutos uma crítica ácida aos comportamentos humanos. Há os que não se importam com o sujeito que perdeu tudo na busca por um sonho de poder ganhar mais dinheiro para dar uma vida melhor a sua namorada e ao filho que está a caminho. Também aparecem as pessoas que não têm sensibilidade nenhuma, compaixão nenhuma e espírito solidário nenhum ao não ajudarem Gates a fazer as ações da IBIS crescerem, para salvar a sua pele. Além disso, há os inúmeros “memes” feitos para o presidente da empresa, Walt Camby, que cai desajeitado por conta de um susto que leva de Kyle. Tudo isso demonstra o comportamento do ser humano que hoje não se importa com o próximo, vivendo num mundo onde tudo é motivo de espetáculo, o que é provado pela quantidade de espectadores ligados na televisão acompanhando o drama do âncora do programa, ou seja, vivemos numa sociedade do espetáculo, em que a vida alheia, ainda que em perigo, é mais interessante do que qualquer outra ação.
Ademais, há a presença da crítica à mídia, que manipula a massa, fato comprovado pela imagem que a mídia vai criando sobre o suposto vilão, Kyle, que, na verdade, é o anti-herói, pois ele é apenas um cara comum, trabalhador, que perdeu tudo e quer saber o motivo de ter sido enganado, mas que vai se transformando numa espécie de herói, uma vez causa uma comoção nos personagens, transformando-os. Somente no povo não causam comoção nenhuma, pois, após os eventos transmitidos, todos simplesmente saem da frente da televisão e retornam à vida normal, como se nada tivesse acontecido nada. Nos deparamos também com a transformação no personagem de Clooney, que muda sua afeição e parece atingir a redenção pelo o ocorrido com o Kyle e também pelo desapontamento com o mercado financeiro, ou, melhor, com as descobertas que fez sobre os seres humanos e seus comportamentos e como tem colaborado com isso. É uma espécie de mistura de realismo com romantismo, causando uma catarse que tira o telespectador do lugar, promovendo uma reflexão profunda acerca do comportamento humano na contemporaneidade, sobre quais são nossas prioridades, principalmente quando deixamos outras necessidades de lado para nos agarrar o ganho capital, nos transformando em monstros sociais que criam outros monstros à solta por aí (fazendo alusão o nome do filme, “Money monster”).
Por fim, uma das falas que resume o filme é a do vilão, o presidente da companhia, Walt Camby, quando afirma a Kyle que ele só estava ali reivindicando seu direito porque ele perdeu algo, ou seja, se ele tivesse ganhado alguma coisa, mesmo se outros tivessem perdido, ele não estaria ali, não se importaria. Isso denota bem a situação que vivemos no Brasil hoje, principalmente quanto à corrupção: enquanto eu levo vantagem com a corrupção, por menor que seja, está tudo bem; porém, se eu começo a ser prejudicado, não me interessa se outro está ganhando, eu quero meus direitos. E há mais uma cena, a do cameraman colocando a sua câmera no chão, de frente para o público, criando uma metáfora clara de que tanto a mídia quanto os meios artísticos, como o cinema, estão de olho, estão olhando, filmando as pessoas e, principalmente, o que se pode encontrar de errado no mundo para denunciar.
Dessa forma, percebe-se claramente com o longa-metragem uma crítica à individualidade das pessoas, à falta de bom senso, de compaixão, de solidariedade ao outro, pois só procuramos nossos direitos porque nos sentimos lesados, ainda que outros estejam se dando bem, além de um recado bem claro de que as câmeras e os meios de comunicação estão aí para prestarem serviço à comunidade.

domingo, 1 de maio de 2016

“SE VIVÊSSEMOS EM UM LUGAR NORMAL”, de Juan Pablo Villalobos



Para quem quer estudar um dos contextos históricos do México e, ao mesmo tempo, sociologia, na tentativa de descobrir culturas – como a gastronomia –, modos de vida, convívio social e também um pouco de política, trago uma dica de livro da literatura latino-americana, porém, a contemporânea.
O livro é do escritor mexicano, radicado no Brasil, Juan Pablo Villalobos. Seu primeiro livro, “Festa no covil”, trata da visão de seu país a partir do olhar de uma criança. Contudo, em seu segundo livro, intitulado “Se vivêssemos em um lugar normal”, publicado pela Companhia das Letras, o narrador, Orestes, mais conhecido como Oreo (igual a bolacha, mas amargo e de apenas um lado, a pobreza), é um adolescente relatando seu olhar diante da pobreza e da miséria, que na narrativa é mostrada por meio da luta de classes entre sua condição paupérrima – marcada pela distribuição das quesadillas por sua mãe – e seus vizinhos ricos – que constroem uma enorme casa ao lado do barraco da família do narrador.
Além disso, também aborda a questão política – que assolada todo o país com casos de corrupção e governos sem sucesso, de mandos e desmandos, levando todo o povo à pobreza – e a própria relação familiar – fazendo com que o narrador tenha pensamentos cruéis, como desejar que alguns dos seus irmãos desapareçam para sobrar mais quesadillhas e tortillas para ele. Fato este que, realmente, acontece, pois dois irmãos gêmeos desaparecem num supermercado. A partir disso, Oreo e outro irmão, Aristóteles, saem em busca dos gêmeos intitulados “de mentira”, pois acham que foram abduzidos por extraterrestes.
Com essa história muito bem amarrada, trazendo uma linguagem inovadora – usando e abusando, inclusive, de palavrões –, misturando vozes de personagens com a voz do narrador, além de trazer as falas dos personagens de forma bem dinâmica, reproduzindo a dinamicidade da novela, ou seja, tudo corre de forma bem natural na narrativa do mexicano, é possível enxergar um panorama do México. Esse tipo de linguagem nos prende nas histórias do narrador-protagonista, fazendo com que estejamos sempre atentos à narrativa e nos dê a impressão de que há um contador de histórias bem ao pé do nosso ouvido. Sendo assim, o escritor demonstra seu país de forma que todo contexto define a sociedade mexicana nos anos 1980, época na qual se passa o romance.
Quanto aos capítulos, são poucos, cerca de 9 (nove), mas de tamanho medianos (em torno de 10 a 20 páginas), o que fazem com que a leitura seja executada de forma corrente (como pequenos contos) e que não se torne entediante. “Se vivêssemos em um lugar normal” é uma boa dica para aqueles que pretendem ler uma narrativa sobre o México, descobrindo a cultura da sociedade, mas percebendo que os problemas, tanto do país quanto dos personagens, que permeiam toda a consciência do narrador, o jovem Orestes, são os mesmos que pairam sobre a cabeça de qualquer menino pobre em qualquer lugar no mundo, seja no Brasil, seja na África, seja na Europa. Ademais, o livro traz referência à cultura grega, a inúmeros ditos populares etc. Os próprios nomes dos personagens foram dados em homenagens a personagens da cultura grega, demonstrando que a família é a representação da tragédia grega, isto é, o fato de a família estar ali já é uma grande tragédia, mas uma tragédia que insiste em viver ou mais especificamente: sobreviver.
Portanto, se quer descobrir o México de forma diferente, a partir do olhar de um adolescente pobre, com os desejos reprimidos e com a individualidade já aflorando – marca registrada de nossa sociedade contemporânea –, o romance do mexicano Villalobos mostra-se como uma boa pedida e uma dica que pode ser, inclusive, passada adiante e que, com certeza, irá fazê-lo aprender e se divertir ao mesmo tempo.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

ENTRE ABELHAS



Aprendemos que o amor é vida. E que esse mesmo sentimento nos mantém vivos e nos encoraja a levantar diariamente da cama. Porém, e se esse amor fosse motivo para que não quiséssemos mais nos levantar da cama ou, simplesmente, sair de casa para nada? Dessa forma, foi pensando nessas questões que me peguei assistindo ao filme “Entre abelhas”, nova produção nacional de Ian SBF e Fábio Porchat, ambos do canal Porta dos Fundos. E é sobre esse tema, tão explorado ao longo dos séculos, que a trupe irá se debruçar.
Todavia, não é mais um filme clichê, no estilo carioca de se viver, sobre um dos sentimentos mais antigos da humanidade. Por meio de uma tragicomédia bem amarrada, sentimos o gosto de perder as pessoas que amamos e de nos sentirmos sozinhos, mesmo entre as pessoas, ainda que não possamos enxergá-las (mas sabendo que elas estão ali), simples abelhas nesse mundo, nessa grande colmeia em que vivemos.
Sendo assim, “Entre abelhas” trata justamente desta temática: o amor. E este é inventado e reinventado à maneira do autor e do protagonista, Bruno, interpretado por Fábio Porchat (ele também assina o roteiro), que ainda não conseguiu passar pelo drama da separação amorosa.  Com isso, o ator e comediante carioca dá vida a Bruno, um jovem adulto que acabara de ir morar no sofá do apartamento de sua mãe, após sair da casa em que vivia com sua ex-esposa. No entanto, ele não consegue esquecê-la e até tenta se reaproximar dela inúmeras vezes durante o longa-metragem.
O filme se inicia num puteiro, com o protagonista celebrando a separação e a nova vida, a de solteiro, acompanhado de seus grandes amigos. Contudo, Bruno não parece feliz e tampouco entusiasmado. Ele sente-se cabisbaixo, projetando seu olhar no horizonte, o que faz com ele não veja diante de seus olhos a mudança que a vida lhe espera e pode proporcionar. Assim, repara numa cadeira vermelha, a qual, para ele, seria o real motivo da briga entre ele e sua ex-mulher.
Então, podemos afirmar que a cadeira vermelha que Bruno tanto vê (e talvez o único objeto que ele consiga enxergar ao longo de toda a trama) representa justamente um dos grandes problemas de um relacionamento chegar ao fim: exatamente quando um parceiro não enxerga mais o outro, levando aquele que é invisível a terminar o namoro, o noivado ou o casamento. Logo, pensamos: o protagonista não enxergava mais a esposa em sua vida, por isso, teoricamente, nada fez, anteriormente, para impedir o término do relacionamento.
Ainda na mesma esteira, o longa-metragem traz, metaforicamente, um paradoxo: inicia-se com o fim de um relacionamento; e termina com o começo de outro. Talvez por conta disso, no meio de tudo que ocorre em sua vida, ele vai perdendo todas as relações que possuía com as pessoas que conhecia, inclusive com sua mãe e seu melhor amigo. Isso é mais uma prova de que um relacionamento é feito de duas pessoas que se enxergam, se tocam, veem num o reflexo do outro, o que Bruno perde ao logo do filme, até acabar sozinho no Rio de Janeiro.
Além disso, o longa-metragem é uma linda metáfora para o que já sabemos: quando estamos apaixonados ou amando alguém, apenas enxergamos aquilo que queremos ver; quando somos enxotados, então, da vida de quem amamos, com certeza não aceitamos essa dura realidade e não conseguimos mais ver o mundo ao nosso redor. Dessa forma, não somos capazes de mirar o horizonte ou aumentar nosso campo de visão, experimentando novas sensações ou as mudanças que a vida pode trazer-nos. E é exatamente o que acontece com Bruno. Por não desistir de sua vida com a ex-mulher, apenas quer ver e ter contato com o mundo que imagina, que quer de volta, chegando ao ponto de apenas avistar e tocar aquilo que quer.
Portanto, mesmo não sendo um filme “cabeça”, mas tratando de forma bem profunda os dramas de quem ama, de quem não aceita mudanças e apenas enxerga aquilo que quer ver, chegando ao ponto de se desfazer dos relacionamentos que tem, com certeza, o filme é um bom pedido. Claro, por se tratar de uma tragicomédia, há momentos de risos e momentos sérios, que nos emocionam, pois são episódios que podem acontecer com qualquer pessoa. Entretanto, vale o ingresso. Com isso, é uma boa maneira de revermos alguns hábitos e muitas crenças que praticamos em relação a esse sentimento nobre: o amor e suas relações com os seres humanos, principalmente com aqueles que amamos.