No
feriado de Independência do Brasil fui assistir nos cinemas à sensação
cinematográfica nacional “Polícia federal: a lei é para todos”, que traz uma
abordagem, no mínimo, peculiar sobre a Operação Lava Jato, a maior investida
brasileira contra a corrupção. O filme demonstrou, ao longo de mais de 1h30, pontos
que devem ser levados em consideração; porém, em alguns momentos, o
longa-metragem trouxe alguns fatos distorcidos sobre a realidade tupiniquim. Vamos
a eles.
A
maior operação contra a corrupção no país iniciou-se de um ponto de partida
interessante: uma apreensão de tráfico de drogas (cocaína) em um caminhão
carregado de palmito. Após essa ação, por meio de investigações, policiais e
delegados da polícia federal descobriram que esse fato estava relacionado ao
doleiro Alberto Youssef, homem já condenado por Moro no caso Banestado (o mesmo
que julgou Gustavo Franco – o nome forte da economia de Fernando Henrique
Cardoso, nos anos 1990, de ter manipulado o cenário econômico da época, apenas
para ver forte sua moeda, o real, e que também virou longa metragem) e principal
suspeito e investigado há tempos pelos policiais federais, que estavam na “cola”
ou na sola do sapato dele, mas que sempre escapava, como um bicho oleoso.
Se
pensarmos só um pouco – e eu digo apenas um pouquinho –, chegaremos à seguinte
conclusão (isso fazendo relação com o atual resultado da megaoperação): políticos,
empresários, banqueiros e seus bancos, entre outros, além de comandar nosso
país de forma sórdida, estão metidos em tráfico de drogas, o que nos leva a
inferir outro problema, o fato de número dois: seriam mesmo os moradores de
morros e comunidades periféricas, nas grandes cidades, os verdadeiros “peixes
grandes” do narcotráfico? Deixo a pergunta como reflexão, caro leitor. Depois
você pode me responder nos comentários.
No
entanto, como nem tudo são flores, vamos ao ponto que achei distorcido da
realidade, mas que encontra uma justificativa, que irei elucidar logo em
seguida. O juiz Sérgio Moro, responsável pelo julgamento de todos os inquéritos
apresentados pela polícia federal, não ocupa lugar de destaque. Ele é mais um
coadjuvante do que protagonista no filme, sem contar que seu semblante está
sempre sério, demonstrando estar num eterno mal-estar por ter de testemunhar
tudo isso acontecido no país, como se ele representasse todo o sentimento da
população, ou seja, enojada com tanta roubalheira acontecendo debaixo do nariz.
Além disso, o juiz de Curitiba é apresentado como um exemplo de cidadão que
preza pelos bons costumes da família, ao ser mostrado com sua esposa e seu
filho; se não bastasse toda essa imagem, o diretor exagera ao evidenciar, de
forma implícita, que Moro segue um código de conduta, ao não contrariar a ordem
de sua esposa sobre a vontade de seu filho em ir para uma festa; o juiz diz que
é de Primeira instância, enquanto sua esposa seria a Corte suprema; dessa
forma, jamais iria contrariar uma ordem dada “de cima”. Nesse momento,
gargalhadas são proferidas pela plateia; porém, os mais ligados aos fatos
deixam escapar, literalmente, uma risadinha de canto da boca, só para não dar a
impressão de que a intenção do diretor passou batida.
Como
eu disse anteriormente, esse desfoque dado ao juiz que mais apareceu na mídia
tem uma explicação, e simples, por incrível que pareça: o enquadramento do
longa-metragem é a polícia federal e seu trabalho, como deixa claro o título da
obra. Portanto, o que passam a ser importantes são as investigações a respeito
de pessoas ligadas aos crimes que levam o Brasil para o patamar de país mais
corrupto do mundo. E é isso mesmo o que o telespectador vê na película: forma
de trabalho, montagem de equipes, meios de se chegar aos suspeitos, operações
etc., tudo com o intuito de exaltar um suposto trabalho muito bem executado de
uma instituição que andou, por muito tempo, sem autonomia e descrente do povo
brasileiro e que vem conquistando a simpatia dos da sociedade depois de
indiciar e até mesmo prender magnatas criminosos que roubaram milhões e, em
alguns casos, bilhões de reais dos cofres públicos.
Por
fim, o longa dá indícios de que, talvez, ainda virá uma sequência, uma vez que
os fatos relatados na narrativa vão de 2013 a meados de 2016, quando o
ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva foi encaminhado, por condução
coercitiva, à sala presidencial do Aeroporto de Congonhas. No episódio, Lula
afirmou ter sido muito bem tratado pelos agentes da polícia, mais uma prova de
que o filme traz uma visão enaltecedora dos homens e das mulheres que compõem
toda a equipe da instituição. Como ser humano, não tenho dúvidas de que isso
realmente tenha acontecido, a película só não precisava exagerar essa
perspectiva protecionista a respeito de toda a corporação.
Enfim,
a obra cinematográfica está em cartaz na maioria dos cinemas e é uma boa opção
para aqueles que não sabem nada sobre a Lava Jato e também para quem gosta de
filmes nacionais. Claro, como sempre digo a todos: só não vamos acreditar em
tudo que ouvimos, lemos, vimos etc. Além disso, metaforicamente falando, para o
mês de setembro, serve como um protesto contra um dos crimes que mais atrasam o
desenvolvimento do país, demonstrando que o povo quer “independência” de uma
larga corja de sanguessugas, que chupam o sangue e a vitalidade de toda a
sociedade, ou ainda um bando de urubus devorando o fígado do povo brasileiro,
até as forças se extinguirem. Nesse sentido, termino o texto fazendo um
trocadilho ruim com o título: “Polícia federal: a lei É para todos?”.