segunda-feira, 4 de maio de 2015

ENTRE ABELHAS



Aprendemos que o amor é vida. E que esse mesmo sentimento nos mantém vivos e nos encoraja a levantar diariamente da cama. Porém, e se esse amor fosse motivo para que não quiséssemos mais nos levantar da cama ou, simplesmente, sair de casa para nada? Dessa forma, foi pensando nessas questões que me peguei assistindo ao filme “Entre abelhas”, nova produção nacional de Ian SBF e Fábio Porchat, ambos do canal Porta dos Fundos. E é sobre esse tema, tão explorado ao longo dos séculos, que a trupe irá se debruçar.
Todavia, não é mais um filme clichê, no estilo carioca de se viver, sobre um dos sentimentos mais antigos da humanidade. Por meio de uma tragicomédia bem amarrada, sentimos o gosto de perder as pessoas que amamos e de nos sentirmos sozinhos, mesmo entre as pessoas, ainda que não possamos enxergá-las (mas sabendo que elas estão ali), simples abelhas nesse mundo, nessa grande colmeia em que vivemos.
Sendo assim, “Entre abelhas” trata justamente desta temática: o amor. E este é inventado e reinventado à maneira do autor e do protagonista, Bruno, interpretado por Fábio Porchat (ele também assina o roteiro), que ainda não conseguiu passar pelo drama da separação amorosa.  Com isso, o ator e comediante carioca dá vida a Bruno, um jovem adulto que acabara de ir morar no sofá do apartamento de sua mãe, após sair da casa em que vivia com sua ex-esposa. No entanto, ele não consegue esquecê-la e até tenta se reaproximar dela inúmeras vezes durante o longa-metragem.
O filme se inicia num puteiro, com o protagonista celebrando a separação e a nova vida, a de solteiro, acompanhado de seus grandes amigos. Contudo, Bruno não parece feliz e tampouco entusiasmado. Ele sente-se cabisbaixo, projetando seu olhar no horizonte, o que faz com ele não veja diante de seus olhos a mudança que a vida lhe espera e pode proporcionar. Assim, repara numa cadeira vermelha, a qual, para ele, seria o real motivo da briga entre ele e sua ex-mulher.
Então, podemos afirmar que a cadeira vermelha que Bruno tanto vê (e talvez o único objeto que ele consiga enxergar ao longo de toda a trama) representa justamente um dos grandes problemas de um relacionamento chegar ao fim: exatamente quando um parceiro não enxerga mais o outro, levando aquele que é invisível a terminar o namoro, o noivado ou o casamento. Logo, pensamos: o protagonista não enxergava mais a esposa em sua vida, por isso, teoricamente, nada fez, anteriormente, para impedir o término do relacionamento.
Ainda na mesma esteira, o longa-metragem traz, metaforicamente, um paradoxo: inicia-se com o fim de um relacionamento; e termina com o começo de outro. Talvez por conta disso, no meio de tudo que ocorre em sua vida, ele vai perdendo todas as relações que possuía com as pessoas que conhecia, inclusive com sua mãe e seu melhor amigo. Isso é mais uma prova de que um relacionamento é feito de duas pessoas que se enxergam, se tocam, veem num o reflexo do outro, o que Bruno perde ao logo do filme, até acabar sozinho no Rio de Janeiro.
Além disso, o longa-metragem é uma linda metáfora para o que já sabemos: quando estamos apaixonados ou amando alguém, apenas enxergamos aquilo que queremos ver; quando somos enxotados, então, da vida de quem amamos, com certeza não aceitamos essa dura realidade e não conseguimos mais ver o mundo ao nosso redor. Dessa forma, não somos capazes de mirar o horizonte ou aumentar nosso campo de visão, experimentando novas sensações ou as mudanças que a vida pode trazer-nos. E é exatamente o que acontece com Bruno. Por não desistir de sua vida com a ex-mulher, apenas quer ver e ter contato com o mundo que imagina, que quer de volta, chegando ao ponto de apenas avistar e tocar aquilo que quer.
Portanto, mesmo não sendo um filme “cabeça”, mas tratando de forma bem profunda os dramas de quem ama, de quem não aceita mudanças e apenas enxerga aquilo que quer ver, chegando ao ponto de se desfazer dos relacionamentos que tem, com certeza, o filme é um bom pedido. Claro, por se tratar de uma tragicomédia, há momentos de risos e momentos sérios, que nos emocionam, pois são episódios que podem acontecer com qualquer pessoa. Entretanto, vale o ingresso. Com isso, é uma boa maneira de revermos alguns hábitos e muitas crenças que praticamos em relação a esse sentimento nobre: o amor e suas relações com os seres humanos, principalmente com aqueles que amamos.

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