domingo, 1 de maio de 2016

“SE VIVÊSSEMOS EM UM LUGAR NORMAL”, de Juan Pablo Villalobos



Para quem quer estudar um dos contextos históricos do México e, ao mesmo tempo, sociologia, na tentativa de descobrir culturas – como a gastronomia –, modos de vida, convívio social e também um pouco de política, trago uma dica de livro da literatura latino-americana, porém, a contemporânea.
O livro é do escritor mexicano, radicado no Brasil, Juan Pablo Villalobos. Seu primeiro livro, “Festa no covil”, trata da visão de seu país a partir do olhar de uma criança. Contudo, em seu segundo livro, intitulado “Se vivêssemos em um lugar normal”, publicado pela Companhia das Letras, o narrador, Orestes, mais conhecido como Oreo (igual a bolacha, mas amargo e de apenas um lado, a pobreza), é um adolescente relatando seu olhar diante da pobreza e da miséria, que na narrativa é mostrada por meio da luta de classes entre sua condição paupérrima – marcada pela distribuição das quesadillas por sua mãe – e seus vizinhos ricos – que constroem uma enorme casa ao lado do barraco da família do narrador.
Além disso, também aborda a questão política – que assolada todo o país com casos de corrupção e governos sem sucesso, de mandos e desmandos, levando todo o povo à pobreza – e a própria relação familiar – fazendo com que o narrador tenha pensamentos cruéis, como desejar que alguns dos seus irmãos desapareçam para sobrar mais quesadillhas e tortillas para ele. Fato este que, realmente, acontece, pois dois irmãos gêmeos desaparecem num supermercado. A partir disso, Oreo e outro irmão, Aristóteles, saem em busca dos gêmeos intitulados “de mentira”, pois acham que foram abduzidos por extraterrestes.
Com essa história muito bem amarrada, trazendo uma linguagem inovadora – usando e abusando, inclusive, de palavrões –, misturando vozes de personagens com a voz do narrador, além de trazer as falas dos personagens de forma bem dinâmica, reproduzindo a dinamicidade da novela, ou seja, tudo corre de forma bem natural na narrativa do mexicano, é possível enxergar um panorama do México. Esse tipo de linguagem nos prende nas histórias do narrador-protagonista, fazendo com que estejamos sempre atentos à narrativa e nos dê a impressão de que há um contador de histórias bem ao pé do nosso ouvido. Sendo assim, o escritor demonstra seu país de forma que todo contexto define a sociedade mexicana nos anos 1980, época na qual se passa o romance.
Quanto aos capítulos, são poucos, cerca de 9 (nove), mas de tamanho medianos (em torno de 10 a 20 páginas), o que fazem com que a leitura seja executada de forma corrente (como pequenos contos) e que não se torne entediante. “Se vivêssemos em um lugar normal” é uma boa dica para aqueles que pretendem ler uma narrativa sobre o México, descobrindo a cultura da sociedade, mas percebendo que os problemas, tanto do país quanto dos personagens, que permeiam toda a consciência do narrador, o jovem Orestes, são os mesmos que pairam sobre a cabeça de qualquer menino pobre em qualquer lugar no mundo, seja no Brasil, seja na África, seja na Europa. Ademais, o livro traz referência à cultura grega, a inúmeros ditos populares etc. Os próprios nomes dos personagens foram dados em homenagens a personagens da cultura grega, demonstrando que a família é a representação da tragédia grega, isto é, o fato de a família estar ali já é uma grande tragédia, mas uma tragédia que insiste em viver ou mais especificamente: sobreviver.
Portanto, se quer descobrir o México de forma diferente, a partir do olhar de um adolescente pobre, com os desejos reprimidos e com a individualidade já aflorando – marca registrada de nossa sociedade contemporânea –, o romance do mexicano Villalobos mostra-se como uma boa pedida e uma dica que pode ser, inclusive, passada adiante e que, com certeza, irá fazê-lo aprender e se divertir ao mesmo tempo.

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