Para quem quer estudar um dos contextos
históricos do México e, ao mesmo tempo, sociologia, na tentativa de descobrir
culturas – como a gastronomia –, modos de vida, convívio social e também um
pouco de política, trago uma dica de livro da literatura latino-americana,
porém, a contemporânea.
O livro é do escritor mexicano,
radicado no Brasil, Juan Pablo Villalobos. Seu primeiro livro, “Festa no
covil”, trata da visão de seu país a partir do olhar de uma criança. Contudo,
em seu segundo livro, intitulado “Se vivêssemos em um lugar normal”, publicado
pela Companhia das Letras, o narrador, Orestes, mais conhecido como Oreo (igual
a bolacha, mas amargo e de apenas um lado, a pobreza), é um adolescente relatando
seu olhar diante da pobreza e da miséria, que na narrativa é mostrada por meio da
luta de classes entre sua condição paupérrima – marcada pela distribuição das
quesadillas por sua mãe – e seus vizinhos ricos – que constroem uma enorme casa
ao lado do barraco da família do narrador.
Além disso, também aborda a
questão política – que assolada todo o país com casos de corrupção e governos
sem sucesso, de mandos e desmandos, levando todo o povo à pobreza – e a própria
relação familiar – fazendo com que o narrador tenha pensamentos cruéis, como
desejar que alguns dos seus irmãos desapareçam para sobrar mais quesadillhas e
tortillas para ele. Fato este que, realmente, acontece, pois dois irmãos gêmeos
desaparecem num supermercado. A partir disso, Oreo e outro irmão, Aristóteles,
saem em busca dos gêmeos intitulados “de mentira”, pois acham que foram
abduzidos por extraterrestes.
Com essa história muito bem
amarrada, trazendo uma linguagem inovadora – usando e abusando, inclusive, de
palavrões –, misturando vozes de personagens com a voz do narrador, além de
trazer as falas dos personagens de forma bem dinâmica, reproduzindo a
dinamicidade da novela, ou seja, tudo corre de forma bem natural na narrativa
do mexicano, é possível enxergar um panorama do México. Esse tipo de linguagem
nos prende nas histórias do narrador-protagonista, fazendo com que estejamos
sempre atentos à narrativa e nos dê a impressão de que há um contador de
histórias bem ao pé do nosso ouvido. Sendo assim, o escritor demonstra seu país
de forma que todo contexto define a sociedade mexicana nos anos 1980, época na
qual se passa o romance.
Quanto aos capítulos, são
poucos, cerca de 9 (nove), mas de tamanho medianos (em torno de 10 a 20
páginas), o que fazem com que a leitura seja executada de forma corrente (como
pequenos contos) e que não se torne entediante. “Se vivêssemos em um lugar
normal” é uma boa dica para aqueles que pretendem ler uma narrativa sobre o
México, descobrindo a cultura da sociedade, mas percebendo que os problemas,
tanto do país quanto dos personagens, que permeiam toda a consciência do
narrador, o jovem Orestes, são os mesmos que pairam sobre a cabeça de qualquer
menino pobre em qualquer lugar no mundo, seja no Brasil, seja na África, seja
na Europa. Ademais, o livro traz referência à cultura grega, a inúmeros ditos
populares etc. Os próprios nomes dos personagens foram dados em homenagens a
personagens da cultura grega, demonstrando que a família é a representação da
tragédia grega, isto é, o fato de a família estar ali já é uma grande tragédia,
mas uma tragédia que insiste em viver ou mais especificamente: sobreviver.
Portanto, se quer descobrir o
México de forma diferente, a partir do olhar de um adolescente pobre, com os
desejos reprimidos e com a individualidade já aflorando – marca registrada de
nossa sociedade contemporânea –, o romance do mexicano Villalobos mostra-se
como uma boa pedida e uma dica que pode ser, inclusive, passada adiante e que,
com certeza, irá fazê-lo aprender e se divertir ao mesmo tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário